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11 agosto 2013

No desenvolver da vida - Capítulo 1 _ Miguel

Acordei com o cheiro de pão fresco da padaria do senhor Joaquim, papai sempre compra pão fresco aos sábados, é o único dia em que ele não me obriga a tomar aquela vitamina nojenta que ele insiste ser mais nutritiva.
O vovô já estava sentado na mesa lendo o jornal enquanto meu pai terminava de passar o café em silêncio. Tem sido assim desde que minha mãe morreu, somos só eu, meu pai e o vovô.
Não somos de falar muito, mas também não há muito o que ser dito. Depois de tomar meu café da manhã eu corri para pegar a minha bicicleta e ir ao encontro de Pedro, meu melhor amigo. _ Não chegue tarde hoje Miguel, amanhã irá pescar cedo comigo. _ Papai me lembrou.
Eu tinha esquecido desse detalhe, as vezes aos domingos meu pai me leva para pescar com ele, mas não são todos, só quando ele diz que a lua liberou, nunca entendi isso muito bem. A maioria dos garotos ficaria feliz em ir pescar com o pai, mas eu não, não quando cresci em uma vila de pescadores que tem a pesca como profissão e não como lazer.
Passei pedalando o mais rápido que minhas pernas aguentavam pelas ruas, a Ana, a menina mais inteligente da minha sala, estava na varando lendo alguma coisa que parecia ter algum bicho na capa, nunca vou entender essa garota.
Eu e Pedro fomos brincar perto do rio, meu pai diz que não é muito seguro ir lá, mas ele não estava me vendo.
_ O que vamos fazer hoje? _ Perguntei quando Pedro tirou um pote de vidro da mochila.
_ Vamos caçar anelídeos. _ Pedro respondeu.
_ Ane... o que?
_ Anelídeos.
_ O que é isso?
_ São minhocas. Pelo menos foi o que a Ana me disse.
_ E desde quando você é amigo da Ana?
_ Não sou amigo dela, mas ela viu meu vidro de minhocas na mochila e disse que ia contar para a professora Sara que eu tinha uma coleção de anelídeos escondida na mochila.
_ E o que você fez?
_ Eu tive que prometer que não grudaria mais chiclete no cabelo dela. _ Ele riu e eu também.
Passamos o dia cavando a terra a procura de minhocas, nunca entendi muito esse interesse de Pedro por bichos nojentos, desde que somos amigos ele já colecionou moscas, besouros, aranhas, o que foi um verdadeiro desastre quando uma delas fugiu e foi parar no quarto da irmãzinha dele, e agora esses tal de anelídeos.
Pedro ainda tentou me explicar o que eram os anelídeos segundo o que ele tinha pesquisado na internet, mas parei de prestar atenção depois que ele disse que eram seres segmentados e alguma coisa sobre uma forma anelar...
Quando voltei para casa o sol já estava indo embora, meu pai não se preocupava mais, ele sabia que aos sábados eu almoçava na casa do Pedro. A tia Socorro tinha ótimos dotes culinários, era bem melhor a comida dela do que a do papai.
_ Boa noite vovô! _ Eu disse. _ Onde está meu pai?
_ Preparando as redes.
_ A sim... dia de pesca amanhã. _ Eu disse desanimado.
_ Claro que sim, amanhã a maré vai estar ótima para a pesca.
_ Como o senhor pode saber o que acontecerá no dia de amanhã?
_ Olhe lá fora e me diga como está a lua. _ Vovô pediu.
Eu olhei e ela estava linda. _ É quase lua cheia.
_ Isso mesmo, é a melhor época para pescar e os tupinambás já sabiam disso a muito tempo.
_ Como assim?
_ Eles se guiavam pelas fases da lua para pescar, mais tarde veio um tal de Galileu e explicou o que os tupinambás já sabiam.

Meu avô sempre foi um homem de poucas palavras, mas quando ele resolvia falar era certo que eu podia esperar uma boa história.

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